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05 fev 2016

Contaminação da água com poluentes emergentes é foco de novo estudo do Instituto APLYSIA

Pesquisadores alertam que consumo de remédios, cosméticos e pesticidas podem alterar a qualidade da água e mudar anatomia e comportamento de espécies, inclusive a humana.


Pesquisadores do Instituto APLYSIA em conjunto com especialistas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Governo do Estado do ES, por meio de Cesan e Iema, iniciaram a elaboração de um projeto científico, pioneiro no Brasil, que em dois anos pode começar a identificar e analisar quais poluentes, em especial os novos contaminantes, estão impactando a qualidade da água, a quantidade desses produtos e os principais efeitos para vida aquática e humana.

A primeira reunião técnica aconteceu na última segunda-feira (01/02) e contou com a participação de um dos mais renomados especialistas em proteção da água no mundo, o professor, doutor e pesquisador do Instituto de Avaliação Ambiental e Estudos Hídricos de Barcelona (IDAEA-CSIC), na Espanha, Damià Barceló, com o objetivo principal de trazer as experiências de sucesso da Europa e os desafios no tema.

De acordo com Barceló, a cada dia surgem poluentes novos, ou seja, que a legislação não abrange. "São remédios, produtos de higiene pessoal, pesticidas modernos, teflon, que na Europa já sabemos que em grande quantidade causam problemas endócrinos em peixes, por exemplo, masculinizam fêmeas e feminilizam machos".

"A Fluoxetina diminui a libido e impacta a reprodução de várias espécies, há outros medicamentos que geram mudança no comportamento dos peixes. Identificar e controlar esses novos químicos é um desafio", pontua Barceló.

E se os efeitos nos peixes já são notórios, é bem provável que os impactos na espécie humana também existam e sejam significativos, como explica a presidente do Instituto APLYSIA, a bióloga Tatiana Furley. "Existem similaridades entre os efeitos observados nos peixes e nos humanos, por isso os peixes são bons indicadores não só sobre a qualidade da água em si, mas também sobre a relação de efeito do consumo daquela água por pessoas".

"E estamos vivendo um agravante! A disponibilidade hídrica é bem menor com perspectivas de uma escassez de água prolongada. Assim, temos novos e mais tipos de contaminantes sendo lançados em um ambiente com cada vez menos água e menor capacidade de diluição", complementa o diretor institucional do Instituto Aplysia, Robson Melo.

Premiado com o internacional "Recipharm Environmental Prize" por seu trabalho com poluentes emergentes e compostos farmacêuticos que afetam o meio ambiente, o pesquisador do IDAEA-CSIC, ressalta que um dos caminhos importantes é o tratamento diferenciado dos descartes dos hospitais, unidades de saúde e clínicas e logística reversa dos medicamentos vencidos. Os países europeus já conseguiram avançar nessa questão: os hospitais já têm seu sistema de tratamento de esgoto individual e as farmácias já recebem os medicamentos vencidos para destinação adequada.

"Os indicadores de presença de antibióticos e anti-inflamatórios na água são altos. Parte pelo consumo e eliminação na urina e fezes, parte pelas sobras de medicação que muitos jogam no esgoto ou no lixo, e grande parte pelos efluentes hospitalares quando eram diretamente lançados na rede doméstica. Esse é o "hot-point". Uma boa tecnologia evita que muitos desses contaminantes impactem os rios. Nossa batalha agora é para que as unidades menores de saúde também sejam obrigadas a implantar o sistema", conta Barceló.


  • O projeto

O objetivo piloto no Espírito Santo é responder quatro questões:

1- Existe a presença de contaminantes emergentes no recurso hídrico? Quais e em que quantidades?

2- Quais os efeitos ambientais desses poluentes? Qual o nível de toxicidade para algas e crustáceos? Está mudando o comportamento, inclusive reprodutivo, dos peixes?

3- Qual o tratamento mais eficiente para as características ambientais do Brasil? Se a água mais quente do clima tropical costuma acelerar o metabolismo, em que velocidade as espécies estão sentindo o efeito desses contaminantes? Qual o prognóstico se não for feito o tratamento?

4- Trabalhar a questão das políticas públicas, junto com os poderes públicos, para adequar a gestão de resíduos.

Conforme Tatiana Furley, em 2016 a meta é elaborar o projeto e buscar recursos para essas pesquisas, além de buscar mais parceiros. "Quase não existem dados sobre os efeitos dos contaminantes emergentes sobre as espécies tropicais. A ideia é nos aproximarmos do modelo europeu, que já avançou na questão, e adequar para a nossa realidade. Vamos começar praticamente do zero".

Para Barceló, não será surpresa se dois itens aparecerem com alto índice de presença na água: protetor solar e repelente. "Acredito que o sol intenso e os cuidados para evitar a picada do mosquito Aedes aegypti (vetor de doenças como dengue, chikungunya e zika vírus) terão influência. Além de antibióticos e anti-inflamatórios, que são de grande consumo no mundo, protetores e repelentes podem ser diferenciais encontrados entre os contaminantes no Brasil, e podem estar presentes na água em concentrações altas e mesmo sendo ingeridos pelos brasileiros".

  • Palestra

Antecedendo a reunião técnica com um grupo de especialistas na Ufes, Barceló realizou uma manhã de palestras sobre a "Qualidade da água em tempos de escassez" no auditório da Rede Gazeta. Estiveram presentes 112 participantes, representantes do Governo do Estado, incluindo técnicos da Cesan, Iema e AGERH, INCAPER, do Ministério Público Estadual, dos SAAEs do interior do Estado, do Conselho Regional de Química, do Sebrae, da Findes, Empresas, membros da academia e pesquisadores.

O evento contou com o apoio de vários parceiros como a Rede Gazeta, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a Sociedade Brasileira de Ecotoxicologia (Ecotox), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos/Iema/AGERH, a Cesan, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o CNPQ, a CAPES e o Instituto de Avaliação Ambiental e Estudos Hídricos IDAEA-CSIC (Barcelona, Espanha).  

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