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27 abr 2015

Falta D'agua no Espírito Santo: Uma questão de tempo.

TATIANA HEID FURLEY (BIÓLOGA) E CAROLINA FERNANDES PINTO (HIDRÓLOGA) 

A previsão de muitos cientistas sempre foi de que não iria demorar muito para faltar água no Brasil. Desde a metade de 2014 até agora, os rios das regiões sul e sudeste vem experimentando condições de seca. De acordo com a AGERH (Agencia Estadual de Recursos Hídricos) os rios Jucu e Santa Maria da Vitória estão com menos de 40% da vazão esperada para o mês de Janeiro acarretando em vários problemas para os recursos hídricos do Espírito Santo.

10543633_978796312144280_7923047906812165496_nMas quando poderemos dizer que estamos sofrendo realmente com uma seca no Espírito Santo? É considerado seco um período de condições mais secas do que o normal, que resulta em problemas relacionados com a água. Para se entender melhor é importante observar que a precipitação (chuva) cai em padrões irregulares em locais diferentes do Estado. A quantidade de precipitação varia de ano para ano, mas ao longo de um período de anos, a média é bastante constante. Por exemplo, no Norte do estado, a precipitação média é de menos de 900 mm por ano. Em contraste, a precipitação anual média no Sul do estado é de cerca de 1500 mm. Mesmo que a quantidade total de chuvas por um ano seja dentro da média, a escassez de chuva pode ocorrer durante um período em que a umidade é extremamente necessária para o reabastecimento dos aquíferos e reservatórios, tal como o período úmido que ocorre no início do verão, podendo assim acarretar na falta d?agua.

Pode-se ressaltar também que quando chove pouco, como vêm acontecendo, os solos podem secar e a vegetação morrer. Além disso, quando a chuva é menos do que o normal por várias semanas, meses ou anos, a vazão de córregos e rios diminui, o que já é visível em todo o Estado. Se esse clima seco persistir por muito tempo, mais problemas no abastecimento de água podem se desenvolver e o período seco que estamos atravessando pode tornar-se realmente uma seca.

O início e o fim de uma seca são difíceis de determinar. Várias semanas, meses ou até mesmo anos podem passar antes que a população saiba que a seca está ocorrendo e seu fim pode ocorrer como gradualmente começou. Durante os anos 1960, a maior parte do Brasil ficou muito mais seca do que o normal. Na região sudeste, a seca prolongada ocorreu em 1963 e vários estados foram afetados, incluindo o Espírito Santo.

A primeira evidência de seca geralmente é vista em registros de chuvas que se encontram fora da média para cada época do ano. Os efeitos de uma seca no fluxo em córregos e reservatórios só serão notados várias semanas ou meses depois a estiagem. Os níveis de água nos poços podem não refletir a escassez de chuva por um ano ou mais depois de uma seca começa. Então, ficou difícil determinar quando a seca se iniciou, trazendo problemas na gestão de recursos hídricos no Estado. Contudo, em períodos de seca as águas subterrâneas só serão comprometidas se a abstração exceder a recarga. Geralmente, espera-se que o nível de aquíferos subterrâneos decline durante a seca devido ao aumento do bombeamento para compensar a estiagem e o aumento da temperatura no verão.11146289_977196052304306_4484304151539651015_n

Um grande problema de gestão é a identificação e previsão das estiagens. Embora seja relativamente fácil definir o que é uma enchente, a definição de uma seca é mais subjetiva. As secas não têm os efeitos imediatos das enchentes, mas tem um efeito mais duradouro podendo causar um estresse econômico em uma região inteira. A palavra ?seca? tem vários significados, dependendo do ponto de vista. Para um agricultor, a seca é um período de deficiência de umidade que afeta o cultivo e mesmo duas semanas sem chuvas pode interferir no ciclo de crescimento de uma lavoura. Para a meteorologia, a seca é um período prolongado quando a precipitação é menor do que a média. Para um gestor de recursos hídricos, a seca é uma deficiência no abastecimento de água que afeta a disponibilidade e qualidade da mesma. Para um hidrólogo, uma seca é um longo período de diminuição da precipitação e vazão. Já para a população, a seca é quando acontece o racionamento e falta água nas torneiras.

Qualquer chuva pode proporcionar um alívio, mas nem sempre irão acabar com a seca. Para explicar melhor esse conceito pode-se fazer uma analogia ao tratamento de um paciente. Por exemplo, quando estamos doentes, uma dose de um medicamento alivia imediatamente um sintoma, mas só um tratamento prolongado e sustentado pode realmente curar. O mesmo vale para uma seca, um evento de chuva não vai imediatamente remediar a seca, somente aliviar seus sintomas em curto prazo. É preciso lembrar que um temporal pode fornecer esses benefícios imediatos, mas também pode causar enchentes devido ao grande escoamento num curto período de tempo.

Alguns cientistas sugerem que existe uma forte ligação entre o desmatamento e a seca por causa da perda em evapotranspiração proveniente das florestas. Por isso, um aspecto importante para a conservação de nossos rios é a redução do desmatamento e o plantio de mata ciliar que podem trazer inúmeros benefícios para os cursos d?água. Além da mata ciliar ter sido devastada nas últimas décadas, nossos rios têm sido ?limpos?. Por causa da preocupação com o nível de água e com a estética a população vem retirando árvores e troncos de madeira que caem dentro do rio. Em contraste com o que acontece no Brasil, técnicas europeias de restauro fluvial, como a instalação de troncos de madeira na calha de rios e córregos, vêm sendo aplicadas justamente para que aquíferos sejam reabastecidos para proteger as margens de erosão e diminuir o risco de enchentes com a retenção da água nas zonas de cabeceira. Projetos de restauração fluvial podem ajudar na atenuação dos efeitos da seca e na recarga das águas subterrâneas.

Com o que vem acontecendo no mundo, todo o desmatamento e a destruição da natureza, não é de estranhar que eventos como estes sejam cada vez mais frequentes em nosso cotidiano, mas nenhum evento isolado faz uma tendência. Também é um fato que desde que os registros começaram não se viu ondas de calor, incêndios florestais, secas e enchentes como se vê agora na região sudeste. Podemos acreditar que tudo isso seja uma coincidência ou variação natural do clima ou podemos optar por agir antes que seja tarde. É tudo uma questão de tempo.

Texto extraído do Instituto APLYSIA

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